LEVANTA E ANDA!
Uma das passagens mais
emblemáticas da Bíblia encontra-se em João 5, que narra a cura de um paralítico
no Tanque de Betesda. O relato começa com a narrativa de um evento milagroso,
quando um anjo vem ao Tanque e move suas águas. Quem entrasse primeiro nessas
águas era curado. Por conta desse sinal, havia um grande número de enfermos
naquele lugar: cegos, coxos, paralíticos, dentre os quais um, que chamou a
atenção de Jesus, que o texto informa no v. 5 que ele estava ali há trinta e
oito anos (o tempo de vida de muitos de nós…). O Senhor se aproximou dele e lhe
fez uma pergunta que parece ser óbvia ao mais desatento: “Queres ser curado?” Alguém, equivocadamente, poderia pensar numa resposta do tipo: “Imagina, só
venho aqui por causa da beleza do mover das águas. Já me conformei com a minha
situação”. A resposta do homem nos leva a entender dessa forma: “Senhor, não
tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto
eu vou, desce outro antes de mim” (v. 7).
Não é esta a situação de muitos
membros de Igreja hoje? Há anos que estão numa situação de paralisia
espiritual, sem qualquer progresso na sua fé, vivendo de experiências que
aconteceram há dez, vinte, trinta anos, ou pior, de experiências vividas por
seus pais, tios, avós… E os motivos dessa paralisia são inúmeros: desesperança,
incredulidade, falta de iniciativa, conformismo e tantos outros, que não daria
para descrever e não é este o propósito deste texto. São pessoas que vivem de
Campanha em Campanha, ministrações em ministrações, muitas vezes indo de um
lado para o outro, atrás de “moveres de águas”, para que suas vidas sejam,
enfim, transformadas, mas nada, absolutamente NADA acontece. Então, acumula dentro de si ainda mais
frustração, ainda mais dúvidas, ainda mais incredulidade.
Me parece que o Senhor não dá
muita atenção à resposta daquele e homem, e lhe ordena: “Levanta-te, toma o teu
leito e anda” (v.8). A palavra ordenada por Ele fez com que aquele homem se
levantasse e obedecesse à ordem dada pelo Senhor, tomou seu leito (uma esteira
onde estava deitado) e saiu andando (v. 9). Um detalhe nos chama a atenção
nessa narrativa: o final do v. 9 nos informa que isso aconteceu num sábado, e
isso tem várias implicações.
Antes de falarmos no sábado,
vamos observar alguns detalhes nessa narrativa: em primeiro lugar, o homem saiu
andando depois de trinta e oito anos paralisado, e nem agradeceu! Mas esse não
é o primeiro evento de cura que o abençoado não voltou para agradecer. Lembram-se
dos dez leprosos, que somente um (um samaritano…) voltou para agradecer? Pois
é, não é? Sempre esses “samaritanos” aparecem para nos dar uma lição… Então,
este homem também não agradeceu. Simplesmente saiu andando com sua esteira
debaixo do braço, e isso em um sábado.
De repente, ele dá de cara com
os fariseus, que o vêem com a esteira, e lhe repreendem: “Hoje é sábado, e não
te é lícito carregar o leito” (v.11). Ele respondeu: “O mesmo que me curou me
disse: ‘Toma o teu leito e anda’”. Eles lhe perguntaram: “Quem é o homem que te
disse: ‘Toma o teu leito e anda’”? O homem que fora curado não sabia dizer quem
era Jesus, pois Ele já havia saído do Tanque. Muitas vezes, somos questionados
sobre as circunstâncias da nossa cura ou das bênçãos que recebemos do Senhor,
seja pelos incrédulos que povoam nossas Igrejas, seja pelos ímpios, que não
querem ver a prosperidade dos santos do Senhor. Nem toda a explicação ou lógica
que possa ser apresentada lhes satisfará, pois eles não sabem de outra coisa,
senão a de criticar quem faz a Obra do Senhor e de impedir que ela prospere. O problema
é que esses questionamentos também podem minar a nossa fé e passamos a olhar
com desconfiança para o Senhor e também para a pessoa que foi usada por Ele
para nos alcançar. Essa desconfiança pode ser muito perigosa.
Quando Jesus o encontra novamente, agora no Templo de Jerusalém, falou novamente com aquele homem, dessa vez de forma mais
gravosa: “Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda
coisa pior” (v.14).
Esse aviso do Senhor me faz lembrar
outra passagem em que o Senhor Jesus trata dos perigos de vivermos uma vida
desregrada:
Mateus 12.43-45: “Quando o espírito imundo sai do
homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso
diz: ‘Voltarei para minha casa donde saí’. E, tendo voltado, a encontra vazia,
varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores
do que ele, e, entrando, habitam ali, e o último estado daquele homem torna-se
pior do o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa”.
Se não cuidarmos bem da nossa
vida espiritual, tendemos a cair no pecado e passamos a agir de forma
displicente e podemos ser surpreendidos por situações ainda piores que aquelas
que experimentamos antes. Ambos os avisos da parte do Senhor são muito sérias e
devem ser levadas em conta em nossos dias, principalmente pela escalada da
apostasia que o mundo experimenta atualmente.
Qual é a lição, melhor, que lições
tiramos desse texto? Resumidamente, são as seguintes:
- O cristão não deve ficar restrito às experiências
passadas e nunca viver das experiências dos outros, por mais importantes
ou maravilhosas que tenham sido;
- Não devemos nos conformar com a situação que
estamos experimentando, no sentido de ficarmos prostrados, choramingando, reclamando. Se ela for permitida pelo Senhor, devemos nos alegrar
nEle e aproveitarmos esse momento para absorvermos tudo o que tem de ser
aprendido com ela;
- Não devemos nos sentir intimidados pelas pessoas
que vêm questionar a nossa fé no Senhor, seja de dentro da Igreja, seja de
fora, pois a nossa intimidade com o Senhor só interessa a nós mesmos e a
Ele;
- Devemos cuidar bem de tudo o que o Senhor nos tem
dado, principalmente a nossa comunhão com Ele, para que nossa situação não
fique ainda pior do que a anteriormente experimentada.
Que o Senhor lhes abençoe ricamente!
Rio de Janeiro, 22 de março de 2013.
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